Essenciais, vigilantes já são mais de 800 infectados e 96 morreram vítimas de COVID-19

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Considerada uma categoria essencial para a segurança de bancos, hospitais, lojas, shoppings, supermercados, entre outros, os vigilantes não têm o reconhecimento devido, mas são esses profissionais que fazem o primeiro atendimento quando o paciente chega a estes locais.

Sem o devido reconhecimento mesmo estando na linha de frente em locais onde o risco de contágio é extremamente alto, nós, vigilantes, estamos sendo contaminados e morrendo por causa da COVID 19, mas ainda não vimos homenagem em nenhum órgão público, jornal impresso ou de televisão ou em nenhuma matéria paga, em agradecimento por participarmos desta batalha.

Apesar de invisível aos olhos de muita gente, o setor da segurança privada trava uma verdadeira guerra contra a COVID-19. Segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Vigilantes (CNTV), em todo o país, mais de 800 vigilantes já foram vítimas da doença e, desses, 96 perderam a vida.

A CNTV se baseou em informações passadas por sindicatos filiados em todo o Brasil. Entretanto, o número pode ser bem maior por conta das subnotificações e dificuldades em acompanhar um dado que muda tão rapidamente.

“O número de infectados é mais difícil de ser mapeado por conta da falta de testes e pela precariedade das informações que chegam. Mesmo assim conseguimos reunir informações para mapear a doença de maneira satisfatória”, explica o presidente da CNTV, José Boaventura.

Segundo a CNTV, os sindicatos cruzaram informações das secretarias municipais de saúde e da imprensa com seus bancos de associados, além de informações passadas por familiares das vítimas.

Segundo o mapeamento feito pela CNTV, o Estado com mais casos de infecções é o Amazonas (186), seguido pelo Distrito Federal (135) e por Pernambuco (134). Na cidade Manauense já foram contabilizadas 13 mortes, perdendo neste quesito para o Estado do Rio de Janeiro, onde foram contabilizadas 15 mortes.

“Alguns Estados não entram na contagem porque não foi possível confirmar as informações”, diz Boaventura.

PRATICAMENTE INVISÍVEIS

Considerada uma categoria essencial de acordo com o Decreto Presidencial nº 10.282, de 20 de março de 2020, os vigilantes não têm o reconhecimento devido. É o que diz Amaro Pereira, diretor da CNTV e Presidente do Sindicato dos Vigilantes de Barueri/SP. De acordo com ele, os vigilantes estão na linha de frente em muitas situações, mas são “praticamente invisíveis”.

“Na maioria das vezes são esses profissionais que fazem o primeiro atendimento quando o paciente chega a um hospital, ou quando o cliente chega em um banco precisando de ajuda. No supermercado ele é o tempo todo procurado para prestar algum tipo de informação”, continua.

“Mesmo assim, boa parte não conta com o material básico necessário para se proteger da COVID-19”, lamenta.

Para tentar proteger esses profissionais, várias entidades filiadas a CNTV acionaram a justiça para obrigar as empresas de segurança a fornecerem álcool em gel 70%, máscaras descartáveis e lavatórios para a higienização das mãos.

“Pode parecer uma bobeira, mas nem as empresas de segurança e nem as empresas contratantes estavam fornecendo o material. Muitos trabalhadores estavam atendendo o público, mas sem a proteção mínima recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”, explica Amaro.

As ações surtiram efeito e ao menos sete empresas tiveram que providenciar o material. “Para o universo de empresas que há em São Paulo e pela quantidade de ações que ingressamos na Justiça, esse número de decisões é pequeno, mas não deixa de ser uma vitória, destaca.

MUITA GENTE, NENHUMA PROTEÇÃO

Na terça-feira, 28/03, o vigilante André Luiz Góes de Albuquerque, de 39 anos, chegou do trabalho reclamando de muita falta de ar e forte dor no peito. Ele era funcionário de uma empresa terceirizada e prestava serviço em uma loja do Carrefour, na Grande São Paulo. A família então o levou ao Hospital Municipal de Barueri. Ao chegar na unidade de saúde deu entrada e já ficou internado com suspeita de COVID-19. Entretanto, na manhã de domingo, 03/5, seu quadro teve uma piora e após parada cardíaca ele faleceu.

Quase um mês antes, no dia 03/04, o vigilante Carlos José Martins do Valle, funcionário da Delegacia de Comércio Exterior da Receita Federal, que fica no prédio do Ministério da Fazenda, na cidade do Rio de Janeiro, chegou ao trabalho em condições de saúde muito ruins. Apresentava sinais claros de COVID-19, mas o medo de perder o emprego o fez ir até o trabalho, mesmo doente. No dia seguinte pela manhã procurou atendimento em uma UPA do bairro de Irajá, onde morava, mas morreu dentro da ambulância enquanto era socorrido para outro hospital.
Antes disso, no dia 02/04, o profissional de vigilância Luis Papim – funcionário da Albatroz Segurança e Vigilância – que trabalhava na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), morreu em decorrência de COVID-19. Papim passou mal enquanto trabalhava, no dia 22/03. Ele foi encaminhado a uma unidade de saúde em Itapevi (SP), e depois internado no Pronto Socorro Central da cidade. Entretanto, não resistiu às complicações da doença.

 

No Distrito Federal, que conta com pelo menos 135 contaminados e 04 mortes, o vigilante Reginaldo de Almeida, 51, morreu no início da madrugada da última sexta-feira (22/05), por volta de 1h, vítima do novo coronavírus. Ele prestava serviços na Residência Oficial do Governador do Distrito Federal  e estava internado havia mais de uma semana no Hospital São Francisco, em Ceilândia.

Igualmente diagnosticada com Covid-19, a esposa da vítima ficou sob cuidados médicos por um mês, mas decidiu por conta própria deixar a unidade de saúde depois de saber do óbito do marido. Nenhum dos dois apresentaram comorbidades.

TRAGÉDIAS ANUNCIADAS

Para o presidente da CNTV, José Boaventura, as mortes dos vigilantes são tragédias já anunciadas. “Poderíamos dizer que a COVID-19 está matando pessoas de todas as classes sociais e setores da sociedade, mas não. Boa parte dessas mortes é resultado da política das empresas e poderia ser evitada. Os profissionais trabalham em locais com grande fluxo de pessoas e sem equipamentos de proteção e materiais de higienização para as mãos, totalmente expostos”, alerta.

“Já tivemos empresas de segurança com focos de contaminação – como o caso da Prossegur de Salvador/BA – e nenhuma providência de desinfecção foi tomada ou testagem dos profissionais realizada. Outro caso gritante foi a contaminação de nove vigilantes terceirizados que prestavam serviço dentro do Banco Central em Brasília/DF. Nove vigilantes contaminados, um deles, inclusive está em estado bem grave”, lamenta. Nesta mesma empresa o número de afastados por Estado é alarmante.

Para Boaventura, não adianta as empresas investirem em publicidade e dizerem que cuidam do social se esquecem seus próprios colaboradores. “É um quadro cruel, mas não deixa de refletir a situação de exploração, um tipo de escravidão moderna onde os empresários apenas utilizam a mão de obra e depois descartam”, finaliza.